Revisão: O Cavaleiro das Trevas ("The Dark Knight")


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Título: O Cavaleiro das Trevas ("The Dark Knight") (2008)
Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine,
Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Morgan Freeman

Faz hoje precisamente uma semana desde que vi o filme. Adiei a escrita desta revisão porque tive que deixar que a história "assentasse" dentro de mim. Quem me conhece sabe que, quando vejo um filme, sou capaz de o criticar positiva ou negativamente de forma competente. Com "O Cavaleiro das Trevas", fiquei sem palavras.

Desenganem-se aqueles que acreditam que este é mais um filme básico de super heróis (o Batman nem sequer é "super": é um homem como qualquer outro cuja riqueza lhe permite obter sofisticados mecanismos para lutar contra o crime). "O Cavaleiro das Trevas" surpreende-nos com a sua história obscura, cheia de reviravoltas, acção e situações que nos colam literalmente ao assento.

Comecemos pelo enredo. No início, torna-se difícil apanhar todas as informações: Um criminoso psicótico chamado Joker começa a assaltar bancos e consegue sempre escapar da polícia. Entretanto, e com a ajuda de Jim Gordon e de um novo Procurador de Gotham, chamado Harvey Dent, pequenas organizações criminosas ligadas à Máfia estão a ser desmanteladas. E onde entra Batman aqui? Pois, é aquele Justiceiro Encapuçado a que Gordon recorre para capturar determinados membros-chave da Máfia de Gotham, e entretanto é o multi-milionário e mulherengo Bruce Wayne. A história prossegue com algum romance (durante todo o filme, ou grande parte dele, existirá um triângulo amoroso entre Bruce, Rachel e Harvey) e depois, subitamente, começa a tornar-se quase assustadora.
O Joker inicia a sua onda de maliciosos ataques, incluindo raptos e explosivos atentados, e tanto Batman como Harvey Dent têm a sua maneira de lidar com a situação. E é neste conflito de vontades e nas inúmeras tomadas de decisões importantes que o filme desenrola a sua história, levando a um final perturbador. O Joker é pura e simplesmente malicioso, com as suas armadilhas, piadas, falta de amor à vida, com esquemas engenhosos... atrevo-me a dizer que ocupa o lugar cimeiro no meu Top 10: Vilões do Cinema. Harvey Dent é um personagem fantástico, mas não suficientemente explorado no filme, deixando um pouco mais, mas não muito, a desejar. Batman é igual a si mesmo, sempre confrontado com dilemas e desafios.
De um modo geral, a história é bastante tenebrosa, com vários momentos chocantes, frases e situações que dão que pensar e até uma vertente semi-filosófica (estão presentes situações que lembram o Paradoxo de Zeno, a filosofia de Schopenhauer e o Dilema do Prisioneiro).

Quanto aos actores, Christopher Nolan não poderia ter escolhido um melhor elenco para protagonizar este filme. Christian Bale é excelente no papel de Bruce Wayne/Batman, Maggie Gyllenhaal é uma substituta de Katie Holmes no papel de Rachel Dowes e é bastante melhor que a sua predecessora, Gary Oldman é notável no seu desempenho de Jim Gordon e Aaron Eckhart é brilhante como Harvey "Two-Face" Dent. Morgan Freeman e Michael Caine, dois veteranos do cinema, desempenham excelentes papéis secundários em Lucius Fox e Alfred, respectivamente. Mas o melhor desempenho neste filme, e quase unanimemente considerado como o melhor desempenho como vilão de todos os tempos, é o de Heath Ledger como Joker.
Esqueçam Ledger nos seus papéis pacíficos e inocentes em "Os Irmãos Grimm" (inocentíssimo) e "O Segredo de Brokeback Mountain" (já não tão inocente). O Joker é assustadoramente perfeito em todos os sentidos, gestos rudes, aspecto selvagem, esgar trocista, comportamento bizarro, e no entanto, é capaz de malícias que nos enojam. Por várias vezes dei comigo a sorrir devido às piadas dele e ao seu comportamento, mas rapidamente arrependi-me e envergonhei-me de me ter rido de uma coisa tão pérfida como o Joker é. Heath Ledger, que morreu em Janeiro passado vítima de uma overdose acidental de medicamentos, é um dos possíveis grandes candidatos ao Óscar de Melhor Actor devido ao seu desempenho em "O Cavaleiro das Trevas". Rest in Peace, Heath Ledger, e espero que este título te seja postumamente atribuido.

Em relação à música e aos efeitos sonoros, "O Cavaleiro das Trevas" exibe as suas cenas acompanhadas sempre por uma de duas coisas: silêncio ou uma música que se adapta perfeitamente à situação exibida. Boa música orquestral nas cenas de acção mais intensa, boa música ambiente em cenas mais suaves, e excelentes efeitos de som (quando o Joker ataca, há sempre uma espécie de ruído de fundo que é perturbadoramente adequado à cena).

Por fim, em relação ao aspecto visual do filme. Cores escuras, cenas intensas e rápidas, ângulos inteligentes e uma estrela dourada na testa de Christopher Nolan por utilizar efeitos especiais apenas quando necessário. Se houver um helicóptero a cair do céu e a explodir, ele está mesmo lá. Se houver uma explosão que parta imensos vidros, eles estão mesmo lá. Se houver uma sobrevisão de Gotham, ela está mesmo lá.
O visual dos personagens também é excelente. O Batman tem um novo fato bastante mais "fashion", todos os personagens têm sempre uma cara lavadinha, o Joker tem um aspecto perturbador, com cicatrizes nos lados da boca, conferindo-lhe um sorriso sarcástico ainda mais assustador, e... *Pequeno spoiler que qualquer fã de Batman já desconfia*

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Harvey Dent, que a meio do filme se converte no vilão Two-Face (Duas-Caras), é diferente de todos os Two-Face que já vimos quer no cinema quer nos desenhos animados. Era verde? Era! Em "O Cavaleiro das Trevas", o lado esquerdo da cara de Harvey Dent é queimado, transformando-o num "vilão" excelentemente caracterizado.
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Quanto à maturidade do filme, é bem forte A violência é algo estilizada (havendo, por vezes, um ou outro momento "Outch!"), nada de sexo, mas todo o filme é bastante intenso, não muito agradável a pessoas que perderam familiares em atentados terroristas ou àquelas jovens mais facilmente impressionáveis. Eu diria que o filme está mesmo a rasgar a classificação de "Maiores de 12".


Geral:
"O Cavaleiro das Trevas" é, na minha opinião, o melhor filme do novo milénio até à data. Com personagens interessantíssimas, acção explosiva, caracterização e interpretação perfeitas, e com pouquíssimos defeitos. Quem não o vir nunca saberá o que é ver um filme que roça a perfeição.
Prós:
- Tudo o que foi mencionado acima...
- ...e mais algumas coisas.
Contras:
- Harvey Dent menos explorado na segunda metade do filme
- Pessoas de compreensão lenta vão ter dificuldade em acompanhar o enredo
- Deixa-nos com vontade de ver mais e mais e MAIS!.

10/10
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