"Mudasti" no Dicionário da Língua Portuguesa? Alguém me indica o caminho para um país de gente inteligente, por favor?


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Antes de mais nada, dou-vos a hiperligação para o Movimento em questão: Movimento "Mudasti no Dicionário".
Uma vez que tenho um desabafo do tamanho do planeta para fazer, até vou enumerar cada um dos pequenos "Ai Jesus" que eu suspirei enquanto andava a explorar o site:
  • Começando pela definição de "mudasti", que é, no mínimo, atroz e demasiado específica para um verbo. Ah, e falta também a indicação de que É um verbo, pois a definição proposta indica uma tradução (mais um motivo para não constar no Dicionário da Língua Portuguesa) e logo a seguir, após um ponto, diz apenas "Imperativo, 2ª pessoa do singular". Imperativo quê?
  • Em seguida, os votos: numa iluminação que deu à Nestlé, ofereceram duas hipóteses de voto: "Sim", e "Sim, claro". Será que estas pessoas também acham que o "Não" também não deve constar no Dicionário da Língua Portuguesa?
  • O manifesto diz que a palavra "Exaurir" é insignificante e que tem um sentido imperceptível. Estas coisas deixam-me exaurido.
  • O site apresenta uma secção chamada "Lixionário", onde os visitantes têm a oportunidade de indicar uma palavra no Dicionário da Língua Portuguesa que achem que deva ser excluída do mesmo, e dando uma, e passo a citar, "Justificação Original". Palavras como "Abeirar" (justificação: "Mas que é isto ?! Estamos na aldeia a falar pás velhas é?! Era muito mais simples dizer a palavra "aproximar"...right??"), "Macaco" ("eles sao horriveis eu acho que a palavra macaco nunca devia ter aparecido no dicionario e todas as pessoas sabem oque e um macaco") e "Xenofobia" (com acento no "O" e com a Justificação Original de que "como é que sabemos se somos de cá ou de lá, se de lá para cá andavam os nossos antepassados a mostrarem-se, assim, nómadas.) são algumas das palavras escolhidas pelos nossos geniais compatriotas.
  • A Nestlé está a oferecer, em várias promoções e concursos, DVDs grátis com o Dicionário da Língua Portuguesa em concordância com o Novo Acordo Ortográfico.
  • Na secção de Estatísticas do site do Movimento, existem duas janelas curiosas: uma delas indica um gráfico circular com as duas respostas possíveis ("Sim" e "Sim, Claro") numa espécie de luta renhida (como naqueles episódios do Dragonball em que o Songoku mandava um Kamehameha e o vilão mandava um raio qualquer, e eles depois uniam-se e levavam 15 episódios a empurrar-se um ao outro até atingirem o emissor), algo que é obviamente uma animação flash a mostrar sempre a mesma coisa. A outra janela é um contador de votos que indica 10 000 000 votos (um para cada português) com um asterisco que remete para a frase "Quem cala consente" (se houvesse no site uma secção de comentários, seria giro vê-los a decrescer os 10 000 000 para 9 999 000, pois imagino que muita gente iria falar).
  • O site tem ainda uma hiperligação para uma petição online para a introdução da palavra no Dicionário da Língua Portuguesa. A petição, neste momento, vai nas 645 assinaturas, e está online num servidor e site não portugueses. Haja Patriotismo.


Por falar em assinaturas, agora apresento o seguinte site: Anti-Movimento "Mudasti" no Dicionário.
Este site apresenta muitos outros argumentos válidos como os que apresentei, e remete também para uma petição contra a palavra "Mudasti" no Dicionário da Língua Portuguesa, ironicamente, num site português e com 2318 assinaturas.

É caso para dizer: palavras para quê?

Crítica: "A Origem" [10/10]


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É engraçado: quando quero escrever uma crítica logo após ver um filme, não consigo. "A Origem" teve que assentar muito confortavelmente na minha cabeça para me poder expressar aqui.

Acontece que "A Origem" é sem dúvida o filme do ano. Venham "Harry Potter" e "Crepúsculo" e sentem-se a um canto. Christopher Nolan volta a confundir-nos, apenas dois anos depois de "O Cavaleiro das Trevas" e dez anos depois de "Memento", outro filme que ficou para a História como sendo a coisinha confusa que mais sentido faz que alguma vez agraciou os nossos cinemas.

Argumento:
Provavelmente o ponto mais forte de todo o filme: um grupo de ladrões de sonhos é pago a peso de ouro para plantarem uma ideia nos sonhos do único herdeiro de uma das mais ricas corporações do mundo. Isto é a base da história e é tudo o que é possível explicar sem me baralhar todo com a história. O enredo aborda variados temas, desde questões relacionadas com a realidade, passando pelo suicídio, o envelhecimento, a natureza da mente humana, entre muitos outros, mas todos eles muito bem entrelaçados com a história principal.
O único problema com que nos deparamos é, muitas vezes, na dificuldade que se possa ter a acompanhar o enredo, pois Nolan dá-nos pouca margem de manobra para nos familiarizarmos com os vários detalhes e informações que são cruciais para a nossa compreensão da história: "empurrões", totens, níveis de sonho, paradoxos, limbos, agentes... não é um filme para se ver agarrado ao telemóvel e a mandar mensagens (como 75% dos jovens da nossa geração), pois todos os detalhes importam. Mas no final, a nossa atenção e concentração são bem recompensadas.

Realização
Nolan brilha aqui, e ali, e em todo o lado. Nem uma única vez que olhei ao telemóvel para ver o tempo que faltava para acabar, pois o filme não faz cerimónias e puxa-nos logo de início. A partir dos 40 minutos de filme, os restantes 100 são uma corrida desenfreada na qual os nossos sentidos e compreensão são esticados ao máximo, numa tentativa de captar todos os detalhes e pormenores. Por várias vezes dei comigo ainda a interiorizar um conceito, e já a cena tinha mudado e os nossos anti-heróis estavam a ser atacados. Este filme é, sem dúvida, um atentado ao nosso cérebro.

Elenco
de luxo. Leonardo DiCaprio no papel principal de ladrão com remorsos, muito convincente; Ellen Page no papel de virgem no mundo dos sonhos, extremamente cativante; Marion Cotillard no papel de morta, excelente no mesmo (apesar de odiar o sotaque dela); Joseph Gordon-Levitt no papel de espertalhão, intrigante e a merecer mais tempo de antena; Tom Hardy como mímico, inteligente e bem-conseguido; Ken Watanabe no papel do contratante, a surpreender; e Cillian Murphy como vítima, o que é algo inovador.
Nolan conseguiu reunir uma série de actores e actrizes que, juntos, formam uma das equipas mais interessantes de se ver no ecrã, as suas forças e fraquezas complementando-se mutuamente.
Facto: Christopher Nolan coloca, pela terceira vez, um saco na cabeça de Cillian Murphy. Oh senhor, acha que aqueles olhos são para se esconder???

Música
Boa o suficiente para não distrair, mas desempenha um papel importante. A música "Rien de Rien" de Édith Piaf, nomeadamente, é um elemento crucial da história, e é ouvida várias vezes ao longo do filme (e também nos trailers: todos aqueles sons fortes e perturbadores que ouvimos ao longo dos trailers (e também no filme) são, simplesmente, partes da música de Piaf reproduzida a uma baixa velocidade: ver link).
Fora de Piaf, a banda sonora é interessante, com Hans Zimmer a cumprir o seu papel de excelente compositor ("Anjos e Demónios", "Piratas das Caraíbas", "Madagáscar", "O Último Samurai"...).

Conclusão
"A Origem" é um filme forte, chocante, confuso, rápido, inquisitivo, violento, sádico, confuso, confuso e um pouco mais confuso. Adorei e recomendo. A ver... com atenção. E quando o virem... falaremos.
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