Sejamos honestos, pouca gente lê um post de blog a menos que o título seja minimamente interessante e que as force a ler o post completo


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Anchovas. Ora aí está algo que nunca provei na minha vida. Não, a sério. Nos filmes americanos, há sempre um idiota que se queixa que a pizza tem demasiadas anchovas. "Well, did you try some of it before you trashed it down the garbage bin, you non-contributing zero?" Uma pizza tem sempre mais do que anchovas: há toda uma massa que tem que ser feita, com ingredientes que têm que ser misturados numa dança intrínseca e coordenada. E mesmo esses ingredientes são produzidos por uma série de pessoas (ou no caso dos ovos, galinhas) que nunca iriam imaginar onde os seus produtos vão parar; para além da massa, há molho de tomate (de certeza que também há aí uma senhora que vende tomates e que espanta ovos estrelados de ferro voadores, como a senhora das ameixas da Compal), queijo (aqui entram as vacas), fiambre (e aqui os cav... porcos), azeitonas (tiradas das oliveiras do Farmville), cogumelos (cujos primos crescem nos cantos das casas mais húmidas), entre outros ingredientes, de acordo com o nome da pizza, claro.

E por falar em nome da pizza, há que dar o nome às criaturas! Daí que a Pizza Quatro Queijos tenha como ingrediente fundamental, bem... quatro queijos. A Pizza Del Mare tem atum ou anchovas e delícias do mar, a Pizza Bolonhesa tem carne à bolonhesa por cima... mas então e a Pizza Quatro Estações? A Pizza Primavera? A Pizza Margarita não tem álcool como o nome indica! A Funny Bacon não tem gargalhadas, a menos que seja cozida num forno movido a gás nitroso! E é melhor nem começarmos com a Pizza da Casa ou do Chefe, já que normalmente é a Pizza mais cara com toda uma série de ingredientes de aspecto fino e caro mas que na verdade são comprados na mercearia da Dona Adelina por 70 cêntimos o quilo.

Depois de criar uma pizza com certos ingredientes e de lhe darmos um nome, é hora de a cozer. Quando finalmente está pronta, pensamos "Hum, para a próxima coloco menos tomate". Só que não colocamos: aliás, nem sequer voltamos a fazer pizza, pois acabamos por a encomendar ou por comprar o trabalho de 25 pessoas por 2 Euros a unidade no Pingo Doce.

E é este facilitismo, esta rede sufocante de serviços em que vivemos, que nos torna menos humanos e nos faz deixar de viver a vida como deve ser vivida. Por nós próprios. Fazê-lo com as nossas próprias mãos, experimentar a mudança, o novo, o desconhecido. Escrevermos o que quisermos, beijarmos quem quisermos, tudo à nossa maneira e não numa tentativa de imitação de outros. Sentir o sol atrás de um vidro, pisar uma folha ressequida no chão, ir a um funeral e cheirar o luto... são sensações para os vivos.

Quando foi a última vez que te deitaste na relva de um jardim e cheiraste a terra? Já alguma vez observaste as ondas na água de um lago formadas pela brisa? Quantas figuras já encontraste nas nuvens? Vives? De certeza? Cheira o ar à tua volta. Se sentires o aroma do luto a rodear quem te ama, então bem-vindo de volta à vida.

1 Response to "Sejamos honestos, pouca gente lê um post de blog a menos que o título seja minimamente interessante e que as force a ler o post completo"

  1. Anónimo

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