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Nacionalismo fora de prazo.


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E fora de prazo está também este post. Faz hoje uma semana que não actualizava o blog, e desde então as únicas coisas a declarar consistem em vários eventos e acontecimentos nos quais participei. Cheira-me a post longo!

Na sexta-feira, dia 4, fui convidado pelo Sandro a ir assistir ao primeiro dia das Marchas Populares no Pavilhão Atlântico, onde assisti às actuações das marchas do Lumiar, Baixa e Bairro Alto. Felizmente, vim-me embora antes da "pancadaria" que houve por causa de Alfama.
Diga-se assim de passagem que não me lembrava o quão belas eram as Marchas: sente-se a magia e a tradição no ar quando se ouve dezenas de vozes a entoar as mesmas canções populares, com coreografias lindíssimas e figuração fantástica! Fiquei cheio de pena de não ficar em Lisboa até sábado, dia 12, porque não vou assistir às Marchas na Avenida da República. Enfim, a Meo há-de servir para alguma coisa.
Não obstante, tendo em conta os vídeos que andei a ver das outras marchas, a minha preferida (e não é pelo meu melhor amigo marchar lá) é a do Lumiar. Há um rigor e profissionalismo que pura e simplesmente não detectei nas outras marchas. A ver vamos se este ano conseguem ficar, pelo menos, no Top 5. Destaco também a marcha do Bairro Alto, que se inspirou no musical "O Fantasma da Ópera" e cuja actuação culmina numa espécie de homenagem à "Masquerade", com leques, salão improvisado e tudo! Foi fabuloso!
Toda esta conversa sobre as Marchas para dizer que, durante as 3 horas que estive no Pavilhão Atlântico com a minha querida Daniela, assisti a um comportamento tipicamente português: o enaltecer das nossas tradições misturado com o aplauso dado à arte de outrém e o sentimento comum de que estamos todos ali para o mesmo fim. O pessoal de Alfama não ajudou (assobiarem e apuparem as outras marchas? Not cool!), mas sabe bem ver a marcha dos Olivais a aplaudir o Lumiar, e vice-versa. Companheirismo tradicionalmente português, e que se partilha e se celebra de ano a ano. Quando dali saí, fui para o Bairro Alto com amigos até às 3, e acabei por arrochar em casa da Xana e do Ricardo.

Contrastando com essa noite de Marchas Populares esteve o Mega Pic-Nic Modelo do dia seguinte, ao qual fui com a Hélia e o António. Ali pude observar um comportamento completamente diferente do que tinha presenciado na noite anterior: hipocrisia. Desculpe-me quem lá esteve, mas foi isto que senti naquele dia. Milhares de pessoas ali reunidas para ver a Selecção Portuguesa, o Tony Carreira e o largar de 20000 bolas de plástico vermelhas que custam 0,5€ cada uma no Modelo e no Continente. A sério? Inclusive testemunhei uma coisa que me deu vontade de chorar pela precariedade: duas senhoras à disputa por causa de um par de bolas de plástico! Em África, crianças subnutridas não lutam pela pouca comida que têm, e em Portugal duas galifónias quase que se desunham uma à outra por causa de um conjunto de objectos cujo módico valor monetário é de 1 euro. Tendo em conta que haviam 20000 bolas iguais à espera de serem lançadas para a população expectante, foi uma cena deveras triste.
Foi igualmente giro ver o povo português a apoiar um grupo de jogadores de futebol que só são lembrados quando há Mundial ou Europeu. "Portugal! Portugal!" ouvia-se por todo o lado, a toda a hora. Mas alguém se lembra de agarrar nas malditas vuvuzelas e gritar a plenos pulmões o nome do nosso país quando os nossos governadores se lembram de aumentar os impostos ou de voltar a aconselhar o país a apertar o cinto? (cinto que já nem é cinto, neste momento é uma espécie de anel, de tão apertado que está)
À noite, volta ao Bairro Alto, desta vez para fazer directa na discoteca. Como diria o Marlon, "How does Lady Gaga like her meat? RAW-AW-AH-AH-AHH!" *saca das garras*

No dia seguinte, domingo, acordei tarde mas estudei Gramática do Português como gente grande. Ou seja, li as folhas uma vez e como nada entrou, limitei-me a comer e a ir ver o "Pensas Que Sabes Dançar?". Voltei, então, a testemunhar um ataque à língua portuguesa que até meteu dó! Desde frases do tipo "Estava a gostar de tudo, desde a mais pequenina coisa... até à maior!" a "Dói-me o coração... dói-me o coração a eles também...", passando pela descrição de um figurino como "Gaga Power Ranger". Outra coisa que notei foi o facto de utilizarem muitas expressões em outras línguas cujas traduções existem há décadas no português moderno, como "Partner" (ou "Partenère", que na minha língua se diz "par" ou "companheiro", algo que não é difícil encaixar num diálogo quando se fala de dança). Dei meia-volta na cama e dormi.

Segunda-feira, o derradeiro dia das minhas avaliações académicas, com a frequência de Gramática do Português. O ambiente antes, durante e depois foi aquilo a que se pode chamar o "luto revoltado", e a frequência em si foi uma espécie de desastre natural, com mortos, feridos e sobreviventes. Um autêntico Holocausto. Chernobyl. Y2K.

Assim termino o meu estudo do comportamento português nestes últimos dias. As conclusões a que cheguei são minhas e só minhas, e cada um será capaz de tirar as suas próprias conclusões: seremos nós um povo que só se lembra de ser nacionalista quando é para soprar cornetas de 4 em 4 anos? Ou seremos mais tradicionais? Será feitio ou defeito? A vossa opinião é bem vinda.

Euro 2008


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Há pouco tempo, não mais que meia hora, Portugal saiu derrotado do confronto com a Alemanha (3-2). Devo dizer que me sinto... aliviado.
Ok, antes de começarem a abrir a página de comentários e mandarem coisas como "insensível", "falta de patriotismo" e outras coisinhas bué de sentimentais, vou só focar 3 coisas que geralmente oiço quando me queixo da demasiada atenção que o futebol recebe:
  1. O futebol é o que faz o país andar
  2. Devias ter orgulho do teu país
  3. Ao menos somos bons nalguma coisa
Em resposta aos três pontos:
  1. Pensava que o que fazia andar eram as pernas, mas acho que me enganei
  2. Eu terei orgulho no meu país quando ele me souber dar bons serviços de Saúde e Educação (não está nem perto disso)
  3. Somos bons em muitas coisas, resta saber é quais

Posto isto de parte, avante!
Não acham estranho os outros países não fazerem o alarido que Portugal faz em relação ao Euro? Quer dizer, é claro que na hora do jogo está tudo à frente da televisão, mas em Portugal esta obsessão bi-anal faz-se notar muito mais: ele é reclamos de televisão, ele é bandeiras por tudo quanto é janela e porta, ele é produtos alimentícios cheios de bandeiras, ele é roupa vermelha e verde esgotada nas lojas. Citando o Filipe Furtado (clica aqui) "De dois em dois anos gosto de me lembrar que sou português.".
Se me queixo do acima, dizem-me logo "Ai, tens que apoiar a Selecção, eles precisam da nossa força!!!", com um ar de espasmo e nojo na cara. Ao que eu respondo, com o ar mais sarcástico que posso fazer com a minha linda (cof cof) cara, que "Se os outros países apoiassem as Selecções deles como nós apoiamos, a força era tanta que os jogadores cagavam e vomitavam força enquanto corriam pelo campo como mentecaptos". No entanto, sou ignorado, e lá vão as pessoas todas contentes enfiar-se no carro e buzinar pela cidade, provocando poluição social, sonora e ambiental. Ah, a crise dos combustíveis é esquecida nestas ocasiões, claro...
Enquanto o povo anda contente com o desempenho dos Magníficos (cof cof, epá, esta tosse...), ninguém tem tempo para reparar no estado lastimoso em que o país está. Os doentes amarinham pelas paredes dos hospitais em busca de uma cama, ao que lhes é oferecida uma arrastadeira com soro e uma almofada pa encostarem a cabeça à parede, bem como 5 ladrilhos do chão. A Educação continua sem grandes melhorias. A crise perdura. E o Governo respira de alívio cada vez que há futebol assim ("Uff, finalmente, um mês sem fingir que me preocupo com aquela gentalha...").
De certa forma, gosto de ver a Selecção nacional a jogar. É bom vermos o nosso país a competir contra outro, e de facto, não deixa de ser cultura. Mas não se justifica isto tudo.
  • Não se justifica que o país congele em alturas como esta
  • Não se justifica que as pessoas aprendam o Hino Nacional só para não fazerem figuras de idiotas nos cafés
  • Não se justificou que, durante o Euro 2004, tivessem sido gastos milhões de euros para construir sei-lá-quantos estádios novos, quando o país está na pobreza em que está
  • Não se justifica que as pessoas que digam que têm nojo do país em que vivem de repente digam "Tenho orgulho em ser português" só porque a Selecção Nacional está a ter um bom desempenho seja em que campeonato for.
  • Não se justifica que outros assuntos de elevada importância política, social e cultural sejam ignorados porque "está a dar a bola".
Ao fim de 4 jogos, a Selecção Portuguesa perdeu contra a Alemanha por 3-2. É o fim da linha. Agora, e finalmente, o povo português pode voltar hipocritamente as suas atenções para as coisas que de facto importam.



Não se esqueçam de deixar a vossa opinião sob forma de um comentário =)
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