Mirror Move.


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Acabei de vir das compras no Pingo Doce, mas enquanto vinha no autocarro (carregado de sacos ilustrados com meninos que nos olham de uma maneira estranhamente homossexual), veio-se-me uma daquelas filosofias de vida que agora tenho que partilhar: porque é que nós, enquanto seres humanos, sentimos a necessidade de viver como Lemmings?

*pausa para ir arrumar as compras*



*30 minutos depois, após arrumar as compras, comer um Liégeois de chocolate e ver a Sara e o Tiago a fazer bombas de fumo frustradas com bolas de ping-pong e folhas de alumínio*

Todos nós sentimos vontade de seguir a onda dos que nos rodeiam, certo? As All Star e as Vans só se popularizaram por causa disso (sim, não foi pelo preço), agora só se ouve a expressão "Podias... podia, mas não era a mesma coisa" e "vuvuzela" (santa fartura), "Glee" agora é fixe e toda a gente vê (sim, porque quando só eu e mais 10 pessoas em Portugal víamos, era uma seca) e até quando vamos à Fnac ou alguma outra loja do género, é mais provável comprarmos alguma coisa que esteja no Top 10 de vendas. Está claro, é assim que a sociedade funciona: é através da mímica e da imitação que as crianças aprendem a falar, a viver e a desenvolver a sua personalidade, daí que é perfeitamente normal que, quando adultos, nos sintamos confortáveis a fazer o mesmo. É óbvio que já não imitamos maneiras de andar ou comer porque estas já estão inscritas na nossa maneira de ser, mas continuamos a imitar maneiras de vestir, palavras da moda (maldita "vuvuzela"), produtos "in", comportamentos "out" (é tão bom ir ao bowling, mas já não é assim tão comum. E as festas de chá, que excitação!)...

Nesta onda de mímica, nem sequer nos apercebemos do poder que as nossas acções têm no resto do mundo. Se nos cingirmos todos a uma determinada marca de cereais, digamos, Nesquik, então a Nestlé deixará de fazer Estrelitas e o mel que antes era utilizado no seu fabrico, deixará de ser produzido em tanta quantidade, deixando uma qualquer apicultura "apeada". Posto isto, façamos um momento de reflexão: pensem em todos os produtos que antes usavam ou consumiam que por algum motivo deixaram de o fazer, pensem no esforço envolvido em criá-los e agora pensem nas consequências do seu desuso/desaparecimento. Eish, aposto que não sabiam que tínhamos tanto poder como sociedade consumidora, pois não?

E isto leva-me ao que me levou à Lua no 702 da Carris: porque raio seremos tão adeptos na imitação dos nossos conterrâneos, se depois não somos capazes de imitar os gregos na sua luta contra a crise? A sua dívida para com a Europa é de cerca de 230 biliões de dólares, enquanto que a dívida portuguesa é de cerca de 280 biliões de dólares, a espanhola de 1,1 triliões e a italiana de 1,4 triliões!!! (números da "New York Times"). Tudo bem que a situação da Grécia é triste, mas se o IMF é capaz de dar 200 biliões de euros de apoio a um só país, porque não a todos os outros? Será porque na Grécia o povo, já habituado e com licenciatura em protestos liberais, vai para as ruas com cartazes e grita pela sua vida? Se sim, então porque não fazemos o mesmo? Porque não fazemos uma marcha por toda a cidade de Lisboa a protestar os milhões de euros gastos numa visita papal, as luxuosas refeições dos nossos líderes (salvos sejam) e os bonitos bólides que os jogadores de futebol compram com os seus ordenados dignos de uma família real? Porque não exigimos mais? Porque não peço eu mais condições na minha faculdade, número 1 no ranking de faculdades com piores condições? Porque não pedem os pais de filhos violados até à morte uma Justiça mais justa? Porque não pedem as vítimas de assalto e agressão nas ruas mais policiamento?

Eu sei as respostas, e todos nós sabemos. Os polícias estão à procura da McCann (sugiro a desistência), a Justiça juntou-se à Procrastinação e andam de mãos dadas, as melhores condições existem nas câmaras municipais e outras estruturas pertencentes a organismos de Estado (sugiro um slogan nas próximas campanhas: "Porque você merece"), e nós não nos queixamos porque somos comodistas. Como portugueses, somos preguiçosos e preferimos esperar que a coisa se componha por si mesma (Deus abençoe o 25 de Abril e todos os envolvidos, senão o Salazar ainda andava por cá). Preferimos lamentar a agir. E eu lamento também. Tento agir mais, tento queixar-me, mas o que é uma pessoa em 10 milhões?

5 Response to "Mirror Move."

  1. Anónimo

    Deves-te achar o melhor

    Queres elaborar ou a dor de cotovelo é tanta?

    Anónimo

    Não estar mais de acordo contigo. às vezes penso exactamente no mesmo. Irrita-me pessoas que estão mal, sabem que estão mal, podem mudar mas no entanto preferem acomodar-se à situação e esperar que ela passe ou melhor. Quer dizer, no fundo é tipo 'waiting for the bus' perdeu um, senta-se acomoda-se da melhor maneira na paragem e espera que venha outro. E se calhar tem outros meios e melhores para chegar onde quer só que por pura preguiça de se mexer não o faz .. (Epah é verdade que o metro é optimo e rapido e etc etc etc, mas um passei de bus às vezes sabe mesmo bem, aborrece-me ver sempre as mesmas paragens, enquanto que de bus vamos sempre vendo coisas diferentes por mais que passemos nos mesmo sitios) Chega a ser 'ironizante' esta situação. Por isso é que digo que nunca vamos andar para a frente enquanto continuarem a pensar numa visao futurista de anos 6 meses.

    Uma coisa que aprendi com o meu curso é que uma coisa para chegar a uma loja de venda, tem que passar por milhentas coisas. Não me admira depois o preço que têm. Há que saber conservar essas coisas e acima de tudo manter-nos fieis a nós proprios e nao ao que os outros querem que nos sejamos.

    Fogo Primo.

    Tu arrasas :D

    Oh amigo joão.... como te compreendo.... Tem dias que me apetece arrebentar as goelas de tanto gritar para ver se este país acorda deste sono idiota......
    Peace
    Vera

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